A tecnologia rodeia-nos e é impossível negar a forma como molda os mais diversos aspetos do nosso estilo de vida. Seja na forma como comunicamos, aprendemos ou investimos tempo e dinheiro, desempenha sempre algum papel.
A pandemia que se vive na atualidade revolucionou o quotidiano de toda a população e exigiu, entre muitos outros aspetos, uma adaptação extremamente rápida de um sistema educativo muito tradicional e tecnologicamente pouco desenvolvido para um sistema de ensino online. O período letivo entre Março e Junho foi um teste forçado às potencialidades deste tipo de ensino e as opiniões foram muito divergentes. Para conseguir ter uma posição consciente quanto a este assunto, é fundamental, numa primeira fase, compreender o que é a tecnologia e considerar os dois lados da moeda.
Comecemos então por procurar resposta a algumas perguntas. O que é a tecnologia? Quem desenvolve a tecnologia?
Tecnologia:
- Ciência cujo objecto é a aplicação do conhecimento técnico e científico para fins industriais e comerciais.
- Conjunto dos termos técnicos de uma arte ou de uma ciência.
- Tratado das artes em geral.
“tecnologia” , in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020
Os seres humanos distinguem-se das outras espécies de seres vivos pela capacidade de pensar e de criar para além do que existe, do que nos é tangível e próximo. Dotados de pensamento crítico, somos capazes de identificar problemas, mais triviais ou mais complexos, e de idealizar soluções para os ultrapassar.
Este espírito insaciável de querer mais, que nos leva a superar o que já alcançamos, permitiu-nos a evoluir como nenhuma outra espécie. É esta constante procura pelo novo e pelo melhor que impulsiona o desenvolvimento tecnológico. Existe desde que o ser humano existe. A evolução tecnológica é essencialmente estimulada por momentos de necessidade, pelo que era expectável que numa atualidade diferente e num contexto nunca antes vivido surgissem também progressos tecnológicos nalgumas áreas.
Ao analisar o ensino à distância devemos, primeiramente, procurar perceber o impacto que este teve no estilo de vida dos estudantes. Num primeiro olhar, para muitos, esta nova forma de ensino trouxe imensas vantagens. Depararam-se com um cenário em que conseguiam poupar tempo e dinheiro em deslocações e intervalos de espera. Este facto possibilitou que o horário e a duração dos intervalos pudesse ser definido pelo próprio, conduzindo a uma gestão mais eficaz do seu tempo e consequente aumento de produtividade. Para além disto, depois de ultrapassadas as questões associadas à política de proteção de dados, a possibilidade de gravação das aulas permitiu a revisão posterior dos conteúdos lecionados ou até uma primeira visualização, caso não tivesse sido possível assistir à aula no seu horário.
Em contrapartida, existe um lado mais obscuro inerente ao ensino à distância e que, após as primeiras semanas, se fez sentir de forma intensa em muitos dos estudantes. A perda de um contacto humano mais frequente levou a uma deterioração da saúde mental e da motivação dos estudantes. O conforto de nossa casa passou de uma vantagem para um dos principais fatores de distração, dificultando a absorção dos conhecimentos lecionados. As aulas laboratoriais, em que era requerido material físico que apenas podia ser utilizado dentro das faculdades, perderam toda a sua componente de aplicação prática de conhecimentos, passando a ter uma abordagem muito mais teórica e meramente demonstrativa. É ainda de notar que, em plataformas online, existe um menor envolvimento nas aulas por parte dos alunos uma vez que se sentem mais inibidos no esclarecimento das suas dúvidas. Para além de tudo isto, existem ainda uma panóplia de problemas associados às ferramentas em si: desde dificuldades em assegurar um computador através do qual possa trabalhar, até ao estabelecimento de uma conexão estável à Internet, muitos dos alunos, especialmente aqueles que vivem com maiores dificuldades financeiras, viram a sua educação prejudicada.
Por outro lado, é também fundamental compreender a perspetiva do professor. Apesar de muitos dos professores universitários se encontrarem também associados a trabalhos de investigação e, por isso, poderem ter maior facilidade no acesso e uso das tecnologias necessárias para lecionar à distância, houve dificuldades na adoção deste tipo de ferramentas. A adaptação da sua forma específica de ensino às funcionalidades – muitas vezes limitadas – das plataformas online disponíveis dificulta extremamente a transmissão dos conhecimentos. A diminuição da interação por parte dos alunos fez com que, frequentemente, os professores se sentissem mais isolados na sua missão, muitas vezes sem qualquer feedback audiovisual ao longo das aulas.
Para além disso, se, por um lado, à semelhança dos alunos, pouparam o tempo das deslocações para as universidades, é também verdade que tiveram de despender do seu tempo livre para realizar sessões de esclarecimento de dúvidas, para colmatar os principais problemas de ensino que foram anteriormente abordados.
Em suma, apesar do ensino à distância se apresentar como vantajoso para estudantes, especialmente em áreas de estudo que requerem menos aulas laboratoriais, a longo prazo pode danificar a capacidade de relacionamento interpessoal dos mesmos. Relativamente aos professores, as dificuldades que insurgem na utilização deste método ultrapassam claramente os benefícios que seriam assegurados.
É inevitável afirmar que a tecnologia que nos rodeia tem impacto nos mais diversos aspetos das nossas vidas. Cabe-nos a nós ser sensatos e entender a relação entre as consequências e os benefícios que novas tecnologias e abordagens trazem. E tu? Qual é a tua perspetiva relativamente ao ensino à distância?
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